Modernidade Líquida – O que é? Conceito, Formação e Exemplos

A expressão modernidade líquida foi criada pelo sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) para representar os tempos de profundas transformações que vivemos na sociedade atual. Esse conceito ganhou muitos adeptos na Sociologia, que passaram a usar essa ideia para explicar uma série de fenômenos vividos hoje em dia.

Neste artigo, você vai compreender melhor o que o sociólogo polonês queria afirmar com esse termo, as relações com os dias de hoje e como esse conceito foi formado, em uma era em que cada vez mais os acontecimentos e as inovações desafiam a humanidade a se adaptar e a buscar caminhos.

O que é modernidade líquida?

Modernidade líquida

Em linhas gerais, a modernidade líquida é o período no qual vivemos atualmente. Trata-se do conjunto de relações e instituições, bem como da lógica de operações, que se impõem e fundamentam o período contemporâneo.

Decifrando o conceito, trata-se de uma época marcada pela fluidez, pela liquidez e pela volatilidade em relação às coisas, num clima de frequente incerteza e insegurança. É na modernidade líquida que todos os padrões e as referências morais do período anterior se esfacelam em uma época na qual o consumo, o gozo, a artificialidade e o agora se sobrepõem às demais coisas.

No artigo A modernidade líquida: o sujeito e a interface com o fantasma, os autores Fabio Elias Verdiani Tfouni e Nilce da Silva descrevem as principais características da modernidade líquida, segundo o filósofo Zygmunt Bauman: “desapego, provisoriedade e acelerado processo da individualização; tempo de liberdade, ao mesmo tempo, de insegurança. Tal contexto pode ser definido pela palavra alemã Unsicherheit que significa: falta de segurança, de certeza e de garantia”.

O tempo da modernidade líquida se explica, nas palavras de Bauman, pela enorme transformação pela qual passa a sociedade contemporânea, desde a vida pública, privada e os relacionamentos humanos. Tais mudanças têm afetado profundamente o tecido social, fazendo com que as instituições acabem se desfazendo e ficando amorfas, como líquidos.

Ao mesmo tempo em que a atualidade oferece maior liberdade, também imputa um crescimento da insegurança, o que leva a um aumento da individualização e à prática do desapego, já que nada perdura ou se mantém, tudo é passageiro.

Formação da modernidade líquida

Modernidade líquida

Para entender mais sobre esse processo, convém mencionar a contribuição de Bauman para esta leitura de momento. Sendo um dos principais teóricos que aborda a denominada modernidade tardia, o sociólogo polonês trata, em suas obras, das inúmeras modificações que se estabeleceram no mundo nas últimas décadas e que ainda hoje influenciam as sociedades.

Para o autor, a globalização proporcionou uma grande transformação nisso, graças ao encurtamento das distâncias gerado por esse fenômeno, que impactou severamente as relações humanas.

De acordo com essa perspectiva, tais transformações começaram ainda no período do Renascimento, quando as ideias racionalistas passaram a ganhar importância no pensamento tradicional, até romperem com os ideais e as formas de organização social anteriores.

Um exemplo disso é a religião, que tinha grande poder na Idade Média e, aos poucos, foi perdendo o seu protagonismo mediador e a sua exclusividade moral, dando lugar às leis civis e também à ética. Considera-se que tal processo de racionalização foi decisivo para prover as transformações que se fixaram no período moderno.

Esse momento foi nomeado por Bauman como modernidade sólida, pois teria sido marcado pela fixação das relações sociais entre os indivíduos e as instituições. O nacionalismo seria um exemplo de identificação da modernidade sólida, em que as pessoas passaram a reconhecer o local onde viviam como a sua nação.

Também, o trabalho, que antes era visto como um processo de tradição passada de pai para filho, por meio dos artesãos, mudou para um conceito de especialização a partir de escolas técnicas, dado o aumento da complexidade das tarefas laborais na indústria.

Esse processo, aparentemente rígido e imutável, dilui-se na modernidade líquida. As relações sociais se tornam voláteis a partir do momento em que os parâmetros concretos de classificação se dissolvem.

Isto é, a pessoa se torna cada vez mais individualista, pois ela se acha livre para alcançar seus objetivos a partir de suas próprias mãos. A liquidez a que Bauman se refere está nessa inconstância e na incerteza que a ausência de pontos de referência, que antes eram socialmente definidos, produz na sociedade.

Nada mais é certo, tudo é relativizado e as relações se liquefazem diante de uma preocupação maior com o agora e o crescimento pessoal, ao mesmo tempo em que não se sabe como as coisas serão, pois não há em que se basear, a não ser em si mesmo, pois as referências passam a ser constantemente questionadas.

Modernidade líquida

Exemplos

Diante da supressão da coletividade e da solidariedade, em favor do individualismo, e da prevalência do consumidor em relação ao homem produtor e partícipe da sociedade, a modernidade líquida modifica também as relações humanas. A partir de agora os contatos afetivos são substituídos por contatos voláteis e momentâneos, ficando cada vez mais superficiais.

Ao invés da vida em comunidade e das relações mais próximas, prevalecem as conexões e relações interpessoais que podem ser feitas e encerradas com a mesma facilidade com a qual se compra um produto no mercado, utiliza-o e, enfim, descarta-o.

Um exemplo muito evidente para esse tipo de situação é o dos relacionamentos virtuais nas redes sociais, em que os indivíduos privilegiam o contato pela internet com pessoas mais distantes ao mesmo tempo em que se distanciam de seus próximos.

O crescimento no número de pessoas morando sozinhas, o descolamento da vida em sociedade para se aproximar de ideais mais imediatistas e consumistas, a contínua ansiedade perante os acontecimentos, o senso de urgência, além do cometimento contínuo de crimes que seriam vistos como absurdos, tempos atrás, também podem ajudar a explicar esse mundo sem referências nem rigidez, ou seja, mais fluído e incerto.

Jornalista com 15 anos de experiência, é mestre em América Latina pela Universidade de São Paulo (USP) na linha de pesquisa Práticas Políticas e Relações Internacionais.

Deixe seu comentário