Mobilidade Urbana – O que é? Características, Consequências e Sustentabilidade

A mobilidade urbana é um dos grandes desafios das sociedades e do Estado nos dias de hoje. O privilégio do automóvel fez a alegria das pessoas e da indústria automobilística, mas trouxe uma série de problemas, especialmente no trânsito, dificultando a locomoção dentro das cidades grandes e potencializando a poluição.

Pensando nisso, vamos procurar entender melhor o problema e suas consequências, as alternativas oferecidas para uma melhor circulação dentro das cidades e o que é mobilidade urbana sustentável.

O que é mobilidade urbana e qual o seu problema?

A mobilidade nada mais é do que as condições que são proporcionadas pelas cidades para que haja uma livre circulação de indivíduos entre as diversas áreas do território. Pode parecer simples, mas trata-se de um dos desafios mais complexos de serem resolvidos no Brasil e em muitos outros países.

Os grandes centros urbanos estão sendo literalmente entupidos de carros e pessoas estão em busca de emprego e serviços, dificultando a locomoção até essas localidades e distanciando cada vez mais o local de moradia do trabalho.

O Brasil tem uma tradição de privilegiar o carro ao invés do transporte público que nos remete aos anos 1950 e ao governo de Juscelino Kubitschek (1956 – 1961), que incentivou a vinda de indústrias automobilísticas estrangeiras ao país. Isso levou a um crescente investimento em rodovias, ao mesmo tempo em que as ferrovias foram sucateadas, privilegiando sempre os carros, caminhões e ônibus aos trens, por exemplo, o que aumentou o tráfego de veículos pesados, que atravanca ainda mais o trânsito.

Outros pontos que valem ser citados são o crescimento e a ocupação desordenados dos territórios nas cidades, sem planejamento, fazendo com que medidas para mitigar o problema e oferecer infraestrutura a essas novas localidades fossem adotadas a posteriori, quando bairros inteiros já estavam criados. Com empregos cada vez mais distantes das residências, o problema da mobilidade salta ainda mais aos olhos, como se observa claramente em cidades como São Paulo.

Consequências da falta de mobilidade

Mais recentemente, o forte crescimento econômico vivido no Brasil proporcionou uma leve melhora na renda da população. Aliado a crescentes incentivos fiscais do Governo Federal para a que a indústria fizesse mais produtos, inclusive carros, para manter a economia aquecida, ocorreu um aumento significativo de carros no país. Por outro lado, o transporte público não acompanhou uma melhoria em seu serviço, gerando cada vez mais engarrafamentos e lentidão nas ruas das cidades, o que gera estresse, ansiedade e outros problemas até mesmo em municípios que não conheciam esse tipo de transtorno.

“Nas grandes metrópoles, onde há permanente disputa entre seus diferentes atores, que se apresentam como pedestres, condutores e usuários de veículos motorizados particulares ou coletivos, a (falta de) circulação é um problema que se reflete em vários pontos: desperdício de tempo de locomoção que gera prejuízo à saúde física e mental; saturação da qualidade de vida e do meio ambiente, aumento de despesa com energia, poluição atmosférica e sonora; maior gasto com logística e transporte de produtos e prestação de serviço, o que acaba por afetar o custo de bens e serviços etc.”, escrevem Antonio Moreira Pires e Lilian Moreira Pires, no livro Mobilidade urbana: desafios e sustentabilidade.

Mobilidade urbana sustentável

A saída é melhorar o transporte público de massas com mais opções, além de incentivar o uso de bicicletas, o que vai impactar na redução da poluição atmosférica. Especialistas na área falam de uma mobilidade sustentável, que propague boas práticas de transportes coletivos integrados que causem melhora na qualidade dos ambientes urbanos. Entre as opções estão o incremento de metrôs, trens, VLTs (Veículo Leve sobre Trilhos) e ônibus com energia limpa. Além disso, terminais que integrem bicicletários e ciclovias para que as pessoas possam se locomover em pequenas distâncias com este modal, bem como esteiras rolantes e elevadores de grande capacidade.

Como exemplos destacados pode-se citar os teleféricos de Medellín, na Colômbia, e, mais recentemente, em Caracas, na Venezuela, e até no Rio de Janeiro, conectando os morros à cidade, ou mesmo os sistemas de bicicletas públicas, como os existentes em Paris, Barcelona, Copenhague, Boston, Bogotá, entre outras. Além disso, oferecer calçadas niveladas, sem buracos e obstáculos, que permitam que as pessoas caminhem confortavelmente, também propiciaria ótimos benefícios, já que um terço dos deslocamentos nas cidades brasileiras ocorre a pé, incluindo cadeira de rodas.

Enfim, somente a partir de uma requalificação do transporte público será possível sonhar com cidades mais integradas, harmoniosas e menos caóticas para se viver. Mas, é preciso repensar a ocupação populacional das grandes cidades e também acabar com a lógica do veículo privado.

O problema é que, ao que parece, tais condições deverão permanecer por um longo tempo, já que as políticas de incentivo à produção, à venda e ao uso de veículos privados seguem prevalecendo em detrimento de medidas de estímulo à utilização de outros tipos de transporte não motorizado e, claro, do transporte público, como considera Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho, no caderno Desafios da Mobilidade Urbana no Brasil, publicado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Jornalista com 15 anos de experiência, é mestre em América Latina pela Universidade de São Paulo (USP) na linha de pesquisa Práticas Políticas e Relações Internacionais.

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