Assimilação cultural – O que é? Exemplos e Críticas ao Conceito

O estudo da cultura e da sociologia nos revela uma série de conceitos e aprendizados que são importantes para compreendermos o mundo em que vivemos. É por meio da relação entre as pessoas de várias localidades e nacionalidades que se têm acesso a povos e culturas distintas e que também há uma mistura de conhecimentos, enriquecendo a vida de cada indivíduo e, consequentemente, a própria sociedade, que se beneficia dessa troca.

Esse processo pode ocorrer de diversas formas e afetar de maneira diversa cada ser humano, comunidade, sociedade e país, dependendo dos acontecimentos ao longo da história, que costumam influenciar decisivamente os anos vindouros. Neste artigo, abordaremos o que é a assimilação cultural, um conceito que tem muita relação com o cruzamento de culturas e os estudos relativos à imigração. Confira, só aqui no Gestão Educacional!

Assimilação cultural

O que é assimilação cultural?

Em linhas gerais, o conceito de assimilação cultural serve para descrever um processo pelo qual uma determinada cultura absorve as características culturais de outra civilização. Ou seja, quando um determinado povo se relaciona com outra cultura de tal maneira que acaba perdendo traços culturais próprios, absorvendo elementos do povo ao qual está se relacionando.

Vale ressaltar que essa tese é bastante discutida e questionada no meio acadêmico, por isso, veremos também as críticas e outras proposições para tentar explicar o fenômeno.

Os estudos sobre a assimilação cultural surgiram nos Estados Unidos e se focavam em aspectos como imigração, raça e grupos étnicos. Ali, se queria relacionar uma possível perda de identidade de alguns grupos por conta da assimilação cultural a qual eram submetidos.

Em Aculturação, Impactos Culturais, Processos de Hibridação: uma revisão conceituai dos estudos antropológicos do turismo, Rafael dos Santos e Margarita Barreto colocam que a assimilação cultural está dentro do
guarda-chuva conceitual da aculturação,
mas destacam que “os processos de simbiose cultural e assimilação, significando ‘a substituição de um conjunto de traços culturais por outro’”.

Assimilação cultural

Esse processo de desenvolvimento da tese se deu em um período em que muitos europeus imigraram para os EUA para firmar residência, em especial devido à Segunda Guerra Mundial.

Autores como o sociólogo Robert Ezra Park (1864 – 1944), um dos principais nomes da Escola de Chicago, afirmavam que os imigrantes que atravessavam o Oceano Atlântico nesse período estavam sofrendo um processo de assimilação cultural. Isso porque, estes perdiam, de maneira gradativa, suas características étnicas, assumindo cada vez mais traços da cultura norte-americana, onde estavam vivendo.

Exemplos de assimilação cultural

Os atos ocorridos após as conquistas romanas por quase toda a Europa e parte da Ásia podem ser considerados como assimilação cultural. Se houve a necessidade da força para derrotar um povo, o desenrolar desse processo demandou muitas relações sociais e trocas comerciais que acabaram influenciando culturalmente os vencidos.

Com a cidade/território subjugado, os romanos escravizavam homens e extraiam do lugar os elementos que precisavam para seguir suas conquistas. Aos poucos, porém, as coisas se acomodavam e muito da cultura de Roma era levada junto com os soldados, influenciando os conquistados.

A conquista da América por parte de Portugal e Espanha é outro exemplo de assimilação cultural forçada. Pode-se citar, em especial, a imposição do idioma castelhano e português e principalmente da religião católica, que praticamente esmagou as práticas dos índios, graças ao trabalho dos padres jesuítas.

Há, também, a assimilação devido à imigração, quando indivíduos se mudam ou se refugiam em outro país. Nem sempre a pessoa aceita a nova cultura, podendo gerar uma resistência, com a reunião de imigrantes para manter a sua própria cultura antes a natural ofensiva local.

Isso pode afetar a integração desses sujeitos na nova sociedade e prejudicar a sua inserção social. Outras populações podem ficar mais abertas a outras culturas e acabarão assimilando traços do novo local de moradia, conservando ou não as suas características e os seus valores.

Assimilação cultural

Crítica da assimilação e o surgimento de novos conceitos

Esse conceito, porém, é alvo de muitas críticas. O sociólogo norte-americano Nathan Glazer (1923 – 2019) foi um dos que mais questionaram essa tese, que desconsiderava os escravos e os indígenas, destacando apenas os imigrantes europeus que imigraram para os EUA.

Ou seja, o conceito de assimilação cultural não levaria em conta uma imensa massa de negros que vivia nos EUA e que já tinham a sua cultura estabelecida no país, se relacionando com as demais dentro do território ou mesmo dos índios que já ali viviam.

Os pluralistas e multiculturalistas também criticavam a tese da assimilação, pois diziam que ela não considerava a dinâmica cultural entre os vários grupos distintos.

A globalização impulsionou uma nova leitura a respeito do assunto. A vitória do capitalismo neoliberal sobre o socialismo real e o impacto no comércio, os avanços tecnológicos, a diminuição da relação entre tempo e espaço, a aproximação das fronteiras e o crescimento da influência da cultura do chamado Primeiro Mundo no resto do globo levaram muitos acadêmicos a estudar a assimilação cultural.

Um exemplo é o do antropólogo argentino Néstor Garcia Canclini, que desenvolveu o conceito de culturas híbridas, focando em como as pessoas consomem, assimilam e transformam as culturas. Nessa teoria, a hibridização se dá a partir das estruturas e práticas, que estavam até então separadas e são combinadas e acabam proporcionando novas estruturas, objetos e práticas.

Tal conceito confronta o anterior, pois, nesta visão, a assimilação seria incapaz de compreender a complexidade dos processos de intercâmbio cultural que ocorrem hoje em dia. Isto é, as trocas culturais são tão constantes e modificam tanto as pessoas e as compreensões de mundo que não seria possível que uma cultura fosse simplesmente assimilada por outra, supostamente mais forte.

De acordo com o conceito de culturas híbridas, o fato de haver uma maior flexibilidade nos processos atuais faz com que a cultura assimilada também seja transformada pelos indivíduos que a absorvem.

Jornalista com 15 anos de experiência, é mestre em América Latina pela Universidade de São Paulo (USP) na linha de pesquisa Práticas Políticas e Relações Internacionais.

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