Por que Fernando Pessoa tinha “outros nomes”? Entenda o conceito de heterônimos

Entenda o conceito de heterônimos e conhece um dos principais autores que fez uso desse recurso, o português Fernando Pessoa!

Você já ouviu falar sobre “heterônimos”? escutou essa palavra nas aulas de literatura da escola, mas não entendeu bem o que significa? Estou aqui para te ajudar!

A palavra “heterônimos” é a junção das palavras gregas “heteros”, que significa “outro”, diferente, e ‘onymos”, que significa “nome”.

Seu sentido e uso no português contemporâneo é bastante parecido com sua raiz etimológica, pois chamamos de heterônimo o nome ou persona que algum autor cria para assinar obras que tem um estilo diferente do seu habitual.

Por isso, podemos dizer que os autores criam “outros nomes”, ou “nomes diferentes” para assinar determinadas obras. Esses autores fictícios, inventados por autores reais, geralmente assumem uma persona, quase se configurando em personagens-autores.

Estudiosos compreendem que o movimento de inventar outros autores para obras diferentes muitas vezes se constitui em uma tentativa de apresentar acontecimentos sobre outro ponto de vista, desassociando-os a uma consciência, como seria a de um autor real.

Assim, o autor tem a chance de modelar seu próprio espaço-tempo, um ponto de vista que não se embasa em uma realidade concreta, uma ficção da ficção.

E o Fernando Pessoa, onde entra nisso tudo?

Fernando Pessoa é um ótimo exemplo disso: ele foi um célebre poeta português, conhecido por sua extensa e complexa obra constituída por diversos heterônimos.

Embora Pessoa seja associado a mais de 200 heterônimos, os principais são Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos (há também Bernardo Soares, considerado um semi-heterônimo, por seu estilo ser similar demais ao do próprio Fernando Pessoa).

O estilo próprio de Pessoa é modernista, enquanto seus heterônimos Caeiro e Reis se opõe à modernidade, buscando construir uma poesia simples, que contempla a natureza.

Álvaro de Campos assume uma postura também moderna, porém pessimista, que desvela as angústias da modernidade.

Fernando Pessoa construiu histórias pessoais para cada um de seus heterônimos, que explicam a forma como eles escrevem e por que se identificam com determinados estilos.

Assim, Pessoa moldou personagens que escreveriam tipos específicos de obras, em uma ficcionalização da própria ficcionalização.

Novamente, estudiosos apontam que a criação de heterônimos, embora passe pela estilística, ou seja, pelos diferentes estilos explorados nas obras, é muito mais um exercício criativo de ficcionalização, de criação de diversos universos literários.

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Referências

CID, G. FERNANDO PESSOA E O DRAMA DO PENSAMENTO: heteronímia e retoricidade. Palimpsesto – Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ http://www.uerj.br/~institutodeletras/palimpsesto/num5/dossie/dossie5_fernandopessoa.htm Volume 06 ANO 6 (2006) – ISSN 1809-3507

Graduada em Letras inglês-português pela UNESP-Araraquara e mestre em Estudos Linguísticos (linha de pesquisa Estudos da tradução) pela UNESP- São José do Rio Preto. Professora de português e inglês, redatora comercial e tradutora EN><PT, Fui bolsista CAPES na graduação pelo programa Residência Pedagógica, dando aulas de inglês para sexta série da Educação de Jovens e adultos e durante o mestrado, desenvolvendo a pesquisa "Makumba: Uma proposta de Matrigestão Tradutória à Poética de Amiri Baraka", no qual executei as primeiras traduções para o português de poemas selecionadas do livro Black Magic (1969), do autor afro-americano Amiri Baraka. Hoje, atuo como professora de inglês na escola Aliança América e Redatora para WebGo/Gridmídia, bem como desenvolvo projetos como tradutora, redatora e professora de inglês e português freelance para diversas empresas e contratantes particulares.

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