Sociologia da educação – O que é? Quando surgiu? E no Brasil?

A Sociologia é um campo até certo ponto recente na nossa história e nos ajuda a compreender como funciona a sociedade e as relações sociais. E a educação, como se insere nesse processo? Você sabia que existe até mesmo uma sociologia da educação focada nessa área? Mas, no que ela consiste? Como ela é entendida e aplicada na realidade cotidiana?

Para entender essa disciplina em específico, neste artigo vamos compreender o significado conceitual da sociologia da educação, suas origens e relação com o filósofo francês Émile Durkheim. Também abordaremos a sociologia da educação no Brasil, a partir de nomes históricos e relatando os seus avanços e retrocessos ao longo dos anos.

O que é sociologia da educação?

A sociologia da educação é um campo do conhecimento responsável por estudar os processos sociais que se desenvolvem em relação ao ensino e também à aprendizagem. Ela analisa os processos institucionais e organizacionais que fornecem insumos para a sociedade ofertando a educação a seus membros e também as relações sociais que marcam o desenvolvimento dos sujeitos durante tais processos.

Considerado um dos fundadores da Sociologia, o filósofo francês Émile Durkheim (1858 – 1917) é o pai da sociologia da educação. Ele foi um dos primeiros a atestar que a escola é uma instituição importantíssima para a formação, já que a sociedade e a escola interagem e se completam no processo educacional.

Para Durkheim, a educação se organiza conforme uma instituição e possui um papel moralizador na sociedade, ao ser responsável por fornecer às pessoas um conjunto de regras, valores, atitudes e comportamentos que são fundamentais para a coesão social. Dessa forma, a educação assegura a manutenção de determinados laços sociais na sociedade moderna. E isso deve ocorrer por meio do desenvolvimento de três funções em específico: senso de disciplina, pertencimento ao grupo e autonomia individual das pessoas.

Mesmo sem ter desenvolvido métodos pedagógicos, Durkheim ajudou na compreensão do significado social do trabalho do professor, ao retirar a educação escolar de uma perspectiva meramente individualista, até então uma concepção idealista, influenciada pelas escolas filosóficas alemãs e por nomes como Immanuel Kant (1724 – 1804) e Friedrich Hegel (1770 – 1831).

“Segundo Durkheim, o papel da ação educativa é formar um cidadão que tomará parte do espaço público, não somente o desenvolvimento individual do aluno”, atesta o professor José Sérgio Fonseca de Carvalho, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), na reportagem Émile Durkheim, o criador da sociologia da educação.

Sociologia da educação no Brasil

No Brasil, a sociologia da educação se desenvolveu a partir de um movimento conhecido como Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, de 1932, nascido após um pedido do então presidente Getúlio Vargas para que a Associação Brasileira de Educação (ABE) redigisse um documento que servisse de base para a educação tupiniquim.

Esse documento teve como principal redator o educador e sociólogo Fernando de Azevedo (1894 – 1974) e teve a participação de dezenas de intelectuais da época, como Anísio Teixeira, Roquette Pinto, Afrânio Peixoto, Cecília Meireles, entre outros. Esse movimento se transformou em um marco do projeto de renovação educacional do Brasil.

Fernando de Azevedo, inclusive, foi uma das referências desse processo e deu contribuições importantes no âmbito da sociologia da educação no Brasil. Por exemplo, em 1941 ele produziu a obra Sociologia Educacional, que faz uma leitura da realidade educacional, baseada nas ideias de Durkheim, mas também com as influências de outros autores como o estadunidense John Dewey (1859 – 1952).

Boa parte de suas obras ecoaram nas chamadas Escolas Normais da época, o que assegurou a difusão das ideias de Durkheim na educação nacional. Essa época ficou notabilizada pela produção de conhecimento que sedimentou as bases da disciplina no país e, consequentemente, pela necessidade de a educação avançar para melhorar o Brasil.

Mais adiante, porém, a Sociologia passou por problemas, especialmente a partir dos anos 1960, em que não conseguiu transpor seu discurso para as políticas educacionais, fazendo com que a educação deixasse de ser um campo procurado pelos sociólogos, principalmente após a reforma de 1968, que separou as Faculdades de Educação das de Filosofia e Ciências Humanas. Por outro lado, tal processo levou a educação para esses campos do conhecimento nas décadas seguintes, imprimindo marcas próprias à sociologia da educação no Brasil, mais voltada às Faculdades de Educação.

Novos esforços foram feitos ao longo dos anos, proporcionando uma “crescente consolidação da Sociologia da Educação enquanto campo próprio de pesquisa no Brasil”, ainda que tenha “contradições e fragilidades”, conforme ponderaram Amurabi Oliveira e Camila Ferreira da Silva, em Mapeando a Sociologia da Educação no Brasil: análise de um campo em construção.

Jornalista com 15 anos de experiência, é mestre em América Latina pela Universidade de São Paulo (USP) na linha de pesquisa Práticas Políticas e Relações Internacionais.

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