Sociologia da infância – O que é? Origem, Mudança na percepção da infância e hoje

A infância é um período especial na vida dos seres humanos, em que há muitas descobertas e aprendizados. É onde formamos muitos dos valores, comportamentos e crenças que vamos carregar por toda a vida. Diante desse cenário, cabe um conhecimento profundo dessa fase tão importante. Daí que nasce a sociologia da infância, que muda a percepção teórica e metodológica em relação à criança.

Para conhecermos com mais detalhes o assunto, neste artigo traremos um pouco da origem que levou ao surgimento desta teoria, bem como compreender em que consiste a sociologia da infância, o que exatamente ela estuda e o que mudou na percepção da infância ao longo do tempo.

Origem do conceito da sociologia da infância

Até o século XIX, a criança recebia apenas um olhar médico, devido ao crescimento da mortalidade infantil, da pobreza e do trabalho infantil. O problema é que essa visão puramente técnica dos especialistas pasteuriza e esteriliza, reduzindo a infância a uma mera questão biológica.

Somente quando a Sociologia se debruçou sobre o tema a visão sobre a infância começou a ter um novo viés. Um passo importante para isso foi o surgimento da sociologia da infância, a partir dos anos 1930, graças ao sociólogo e antropólogo francês Marcel Mauss (1872 – 1950), que trouxe esse conceito para dentro das Ciências Sociais. Esse campo do conhecimento, contudo, acabou sendo excluído das pesquisas acadêmicas nas décadas seguintes.

A disciplina conseguiu ter uma fundamentação metodológica mais consistente somente no último quarto do século passado, quando se cristalizou o estatuto de criança como objeto sociológico e também a percepção da infância como categoria social. Isso se deve às transformações ocorridas no âmbito da infância, quando os pesquisadores europeus e norte-americanos passaram a compreender esse período como um estágio fundamental da existência humana e também um elemento vital para a arquitetura social.

Mas, para que isso se consolidasse entre os sociólogos foi preciso modificar a visão que se tinha das crianças, pois durante muito tempo elas eram vistas como seres passivos e dependentes dos adultos. Dentro dessa concepção, a criança apenas absorveria a linguagem, as regras, os símbolos e as maneiras de interação dos mais velhos. Especialistas afirmam que isso produziu uma grande massa de excluídos infantis, silenciados e invisíveis.

Mudança na percepção da infância pela Sociologia

Posteriormente, a infância passou a ser vista pelos sociólogos como algo que vai muito além de uma mera condição natural do desenvolvimento das pessoas. “As primeiras linguagens da criança pequena são construídas com a família e após é ampliado pela instituição escolar. Por isso a necessidade de uma sociologia da infância, pois os códigos modificam também as expectativas em relação às crianças que estão envolvidas cada vez mais cedo no processo de escolarização”, explica Maria Cristina Alves, no texto Sociologia da infância: um diálogo necessário.

Essa maior preocupação com os infantes nas últimas décadas do século XX elevou o número de estudos na área e, consequentemente, impulsionou esse olhar sociológico a essa faixa etária, ainda que sejam necessários ajustes. “Na tentativa de compreender a criança e seu lugar na sociedade, percebe-se o constante deslocamento próprio da construção social, complexa e diversa, que revela o quanto ainda se precisa avançar na tarefa de assumir a criança e a infância na perspectiva apontada”, escrevem José Milton de Lima, Tony Aparecido Moreira e Márcia Canhoto de Lima, em A Sociologia da Infância e a Educação Infantil: outro olhar para as crianças e suas culturas.

De acordo com Maria Cristina Alves, a sociologia da infância visa dar voz às crianças, incluindo-as como atores sociais, de identidade singular e de construção histórica, política, social e cultural. Ela defende que, para estudar a criança em sua cultura, é fundamental que as Ciências Sociais compreendam a infância em suas próprias produções, além de analisar como as crianças interagem com a cultura, como pensam e se relacionam com o universo à sua volta.

Sociologia da infância nos dias de hoje

Atualmente, os especialistas têm debatido alguns aspectos distintos, como o potencial desvanecimento do conceito de infância, surgido recentemente nos debates intelectuais, devido às transformações que têm ocorrido na contemporaneidade, além da visão infantil como um elemento importante na construção social. Vale destacar também outros temas como a percepção de que existem diversas infâncias distintas entre si, determinadas por juízos, práxis e demais discussões que ajudam a estruturar essa ideia.

Jornalista com 15 anos de experiência, é mestre em América Latina pela Universidade de São Paulo (USP) na linha de pesquisa Práticas Políticas e Relações Internacionais.

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