Tradicionalismo – O que é? É o mesmo que conservadorismo? Exemplos

A tradição é algo enraizado entre os indivíduos, que buscam manter alguns elementos que vinculam suas vidas em relação ao seu passado, ao seu lugar, aos seus costumes etc. O problema é que, em certos aspectos, essa prática pode impedir a chegada do novo e a renovação de coisas e situações que podem ajudar a evoluir e melhorar a vida das pessoas.

Por isso, trataremos, neste artigo, do que é exatamente o tradicionalismo, o que ele aborda e suas semelhanças e diferenças em relação ao conservadorismo. Também, adentraremos no tradicionalismo no Brasil e sua relação com Portugal. Só aqui, no Gestão Educacional!

O que é tradicionalismo?

Como o próprio nome diz, o tradicionalismo é uma corrente filosófica que tem como foco a tradição como forma de manter o equilíbrio dentro da sociedade. Ao contrário do que muitos especialistas consideram, os intelectuais adeptos do tradicionalismo destacam que a sociedade não é resultado de uma vontade pessoal ou mesmo de medidas impostas por um determinado grupo social.

Em oposição a essa crença, a sociedade seria, na realidade, uma criação regida por leis naturais. Diante disso, haveria uma série de hábitos e de tendências que deveriam ser mantidas e respeitadas por todos para que a sociedade se mantenha firme, em equilíbrio.

Como os tradicionalistas partem da manutenção da sociedade criada de maneira natural, eles são avessos às revoluções, alegando que as predileções por essa ou aquela doutrina não devem conduzir as sociedades nem determinar seus sistemas políticos. Consequentemente, os tradicionalistas também são rivais dos que defendem ideias de esquerda, já que estes argumentam ser necessário acabar com a desigualdade social, o domínio de classes e as opressões que afligem os desfavorecidos devido a estruturas rígidas e que pouco assimilam as mudanças e novidades.

Em resumo, para o tradicionalismo, a História é quem deverá indicar o caminho que a sociedade deverá manter. Em uma frase de efeito, pode-se dizer que o tradicionalismo considera que as coisas não são boas por serem antigas, mas sim que são antigas por serem boas.

Tradicionalismo x conservadorismo

É importante salientar que tradicionalismo e conservadorismo não podem ser considerados a mesma coisa. Na realidade, ambos pouco dialogam, e por um motivo bem simples: os tradicionalistas não são contra inovações no campo social, da política, grupal e individual. Se o conservador busca a manutenção da ordem política, econômica e social, o tradicionalista é mais suscetível a modificações.

Contudo, é fundamental ressaltar que tais transformações não podem afetar a essência de sua sociedade. Logo, as mudanças não podem ser estruturais, nem completas ou radicais, elas devem estar alinhadas com os pressupostos que regem aquela sociedade. É interessante notar, portanto, que os adeptos do tradicionalismo são menos rígidos e menos intolerantes em comparação aos conservadores.

Tradicionalismo no Brasil

O tradicionalismo no Brasil decorre de uma herança portuguesa, que influenciou bastante os defensores dessas ideias em nosso país. Especialistas dividem o tradicionalismo brasileiro em quatro ciclos bem definidos, conforme explica o professor Tiago Adão Lara, em Etapas do tradicionalismo no Brasil.

O primeiro ciclo é luso-brasileiro, tendo ocorrido no chamado período pombalino (1750 – 1777), quando Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido como Marquês de Pombal, foi primeiro-ministro português, nomeado por Dom José I. A ideia era contrapor o tradicionalismo ao liberalismo político, resultando em um movimento político denominado miguelismo (que apoiava a legitimidade de Dom Miguel de Bragança ao trono português), que repelia o sistema representativo e tinha em José da Gama e Castro (1798 – 1873), o seu grande teórico.

O segundo ciclo tem raízes mais brasileiras e, graças à influência de Dom Romualdo Antônio de Seixas (1787 – 1860), a teoria se relaciona mais propriamente à problemática de caráter mais filosófico-teológico como suporte teórico à luta da Igreja Católica contra a modernidade, representada então pelo liberalismo, que ia contra a monarquia.

O terceiro se relaciona com o período da República Velha (1889 – 1930), no qual ficou evidente a luta contra o catolicismo, já que este marcava os horizontes culturais do Brasil Colônia durante o período do Império. Em contraposição à religião oficial da Coroa portuguesa, a República se proclamou laica, o que levou muitos católicos a se colocarem contra ela. A posição tradicionalista, inclusive, chegou até mesmo a de ser favorável ao retorno da monarquia e, consequentemente, ao poder que a religião possuía no antigo Império.

“O quarto período é delineado, de maneira mais esclarecedora, por Anna Maria Moog Rodrigues, no antigo O tradicionalismo católico, em Atas do VII Colóquio Antero de Quental. A presença do tradicionalismo vige, a partir de 30, numa recomposição institucional da Igreja. Separada do Estado, ela se reorganizou e foi capaz de lançar uma contraofensiva cultural, através também de um contingente significativo de pensadores católicos leigos, cuja meta se pode expressar no lema: ‘recuperar o Brasil para Cristo’”, explica Lara.

Jornalista com 15 anos de experiência, é mestre em América Latina pela Universidade de São Paulo (USP) na linha de pesquisa Práticas Políticas e Relações Internacionais.

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