Hegemonia – O que é? Conceito, Evolução e Contra-hegemonia

Hegemonia é um conceito que ganhou um significado todo especial a partir das contribuições do filósofo italiano Antonio Gramsci (1891–1937). Até então, a palavra hegemonia tinha um significado menos político, sendo que sua etimologia relacionava o termo com a palavra “liderança”, numa derivação da expressão grega de nome semelhante ao da Língua Portuguesa.

Para exemplificar o seu significado, imagine um time que foi campeão nacional por três anos seguidos, logo, ele pode ser classificado como hegemônico naquela competição durante aquele período de tempo.

Já com Gramsci, a expressão ganhou maior corpo, servindo para explicar um certo tipo de exploração. Para ele, na hegemonia, o poder se expressa não somente por meio das instituições políticas, mas também a partir da cultura.

Neste artigo, vamos explorar como funciona a hegemonia dentro da concepção gramsciana e como esse conceito dialoga com as teses marxistas.

O que é a hegemonia de Gramsci?

Não há como tratar do conceito de hegemonia baseado em Gramsci sem mencionar o filósofo alemão Karl Marx (1818–1883). Para o autor comunista, no capitalismo, a base econômica é controlada pela classe que domina os trabalhadores, e isso ocorre na chamada superestrutura, que compõe as instituições e também as relações sociais.

Gramsci vai além e afirma que essa dominação de classe se dá não apenas no âmbito econômico, mas também do ponto de vista cultural, já que a classe operária está sujeita ao pensamento ilusório oferecido pela classe dominante para a manutenção do seu poderio.

Conforme o Marxismo, a sociedade vive uma constante luta entre classes, sendo que nos tempos modernos ela se dá entre os trabalhadores e os burgueses, de modo que o conflito deve chegar ao extremo que leve os primeiros a tomar o lugar dos segundos.

Nesse sentido, Gramsci pontua que essa dominação se propaga por meio da divulgação das visões de mundo da classe dominante. Isso ocorreria porque a repressão não seria suficiente para subjugar os trabalhadores, tendo sido necessário domesticá-los também do ponto de vista ideológico. A essa espécie de dominação oculta foi dado o nome de “hegemonia”, por Gramsci.

Como se vê, há uma disputa ideológica de visões de mundo, o que podemos englobar também crenças, valores, ideias, em que os dominados propagam as ideias daqueles que os oprimem, aceitando-as como verdades inabaláveis por sentirem como sendo suas realidades. Esse trabalho é efetuado pelos intelectuais, que atuam de acordo com as diretrizes da classe dominante que os representa.

No artigo O conceito de hegemoniano percurso dos meios às mediações, Gláucia da Silva Mendes Moraes afirma que essa organização cultural desenvolvida por esses intelectuais se desenrola na sociedade civil, um dos planos superestruturais apontados por Gramsci. “Esta consiste em um conjunto de organismos “privados” – tais como o partido, a escola e a imprensa – destinados ao exercício da hegemonia. Os organismos da sociedade civil são trincheiras avançadas do Estado, que se antepõem a outro plano superestrutural: a sociedade política, constituída pelos aparelhos de repressão policial-judicial, que asseguram o domínio pela coerção”.

Hegemonia consentida e contra-hegemonia

Vale dizer, no entanto, que essa hegemonia é consentida, fazendo com que as posições de influência dentro da sociedade estejam sempre nas mãos de membros da classe dominante, que vão apresentar os interesses de um grupo social como de todos os atores. Isso faz com que as ideias sejam enraizadas em todas as camadas da sociedade, auxiliando na manutenção do status quo e na subjugação dos trabalhadores perante os donos dos meios de produção.

Contudo, apesar de parecer um jogo impossível de ser revertido, já que, aparentemente, as pessoas não percebem essa dominação ideológica, o filósofo italiano alerta que aqueles que são capazes de analisar de forma crítica aquilo que lhes é imposto podem transformar esse quadro a partir de um pensamento contra-hegemônico. Entre eles estão os próprios intelectuais.

Esse processo poderia ocorrer dentro de um contexto de profunda crise econômica que levasse a uma séria crise de desemprego.

Diante desse cenário complicado para o capitalismo, poderiam surgir manifestações e protestos que aglutinassem diversas forças contra-hegemônicas para derrubar o estado de coisas atual. Dessa forma, o autor reconhece a participação das ideologias e também das pessoas na busca por uma transformação social, deixando claro que a cultura e a autonomia humana podem manter ou mudar uma sociedade.

Jornalista com 15 anos de experiência, é mestre em América Latina pela Universidade de São Paulo (USP) na linha de pesquisa Práticas Políticas e Relações Internacionais.

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