Sociabilidade e socialização – A construção do indivíduo

O mundo em que vivemos possui inúmeros elementos que acabam influenciando no modo de vida, na percepção sobre as coisas por parte dos indivíduos e, consequentemente, no comportamento de cada um. As características culturais, as estruturas sociais, as instituições, os valores, as crenças, as tradições, entre outros fatores, podem moldar a pessoa e sua vida em sociedade.

Mas, para que o sujeito que nasce nesse meio social entenda a respeito daquilo que o cerca, será preciso que ele apreenda os elementos culturais e sociais que envolvem essa sociedade. Esse processo de aprendizagem que é a socialização é o elemento central que trataremos neste texto.

Sociabilidade e socialização

O que é sociabilidade e socialização?

A socialização permite que sejam incutidos nos seres humanos os traços culturais relativos ao meio no qual eles estão inseridos, já que, como sabemos, as crianças não nascem com todas essas informações dentro de si. Tal aprendizagem ocorrer no convívio diário do indivíduo desde pequeno, quando ele recebe as informações e os aspectos culturais da sociedade na qual ele está inserido, devido à sua família.

É a partir dessa sociabilidade, desse contato social entre os sujeitos sociais, que vão sendo incorporados no indivíduo todos os conceitos e as visões de mundo que aquele contexto social possui. Isso ajuda a pessoa a se guiar na vida diante dos vários significados que a realidade oferece e também influencia o seu comportamento.

Causas

Segundo Tamara Grigorowitschs, no artigo O conceito “socialização” caiu em desuso?, o sociólogo francês Émile Durkheim (1858 – 1917) foi um dos primeiros a tratar a respeito do conceito de socialização dentro da Sociologia. Durkheim via esse processo de socialização como algo específico da infância (ainda que ela ocorra em outras fases da vida, como veremos à frente), sendo que os adultos eram os indivíduos responsáveis por conduzir esse desenvolvimento nas crianças, o que acaba afetando a autonomia desses novos seres humanos.

Sociabilidade e socialização

“A autonomia do agir foi tratada por Durkheim como um déficit para a vida organizada em sociedade, à qual os indivíduos deveriam ser integrados, uma vez que incorporavam os saberes e normas sociais vigentes, por intermédio de indivíduos ‘já socializados’, com a finalidade de manter a coesão e a ordem social”, observa Tamara Grigorowitschs.

Como podemos notar, entre as causas desse processo de socialização e sociabilidade, é possível citar o enquadramento do indivíduo dentro de uma realidade e de valores morais e costumes que regem a sociedade na qual ele faz parte. O sujeito só irá começar a conseguir formar suas próprias convicções e observações a partir da adolescência e, de forma mais fundamentada, quando adulto.

No entanto, isso ocorrerá dentro do molde já estabelecido quando pequeno. Ou seja, mesmo que a pessoa mude muitas concepções recebidas quando criança, certos elementos dificilmente serão modificados dentro dela.

Características da sociabilidade e socialização

Entre as características do processo de socialização na construção do indivíduo, a autora Tamara Grigorowitschs comenta que ele envolve um ser humano individual e tudo o que nele consta, como experiências, posicionamentos, saberes, estruturas emocionais e capacidades cognitivas.

Ainda de acordo com ela, o processo de socialização leva em conta, também, “suas interações, comunicações e atividades no meio social em que vive (relações familiares, escolares, interações com outras crianças, meios de comunicação de massa, religião etc.), bem como as distinções sociais que podem se manifestar em todas essas relações (sua pertença racial, de gênero, de estratificação social etc.)”.

Sociabilidade e socialização

Exemplos

Para citar os exemplos, é necessário tratar dos tipos de socialização, retirados do texto “O processo de socialização: indivíduo, sociedade e cultura: primária, secundária e terciária”, que levam em conta a fase da vida do indivíduo:

  • Socialização primária: ocorre na infância a partir dos agentes socializadores da família e da escola, que proporcionam uma relação didática. Pode haver também influência dos meios de comunicação, que promovem uma relação mais direta e impessoal;
  • Socialização secundária: na fase adulta, quando o sujeito tem sua personalidade relativamente formada e tem maior estabilidade comportamental. Isso faz com que os agentes tenham uma influência mais superficial, embora alguns abalos possam ocorrer na pessoa, causando crises pessoais. Em casos assim, surgem outros agentes socializadores, como os grupos de trabalho, para dar suporte e influenciar o sujeito;
  • Socialização terciária: acontece na velhice. Aqui podem ocorrer crises pessoais, já que o mundo pode parecer-lhe restrito e tedioso. Pode haver ainda uma dessocialização em relação a critérios e valores, por conta das mudanças ocorridas na sua vida. Ao mesmo tempo, se desenrola uma nova aprendizagem para este indivíduo, fazendo com que ele se adapte à nova realidade, o que implica em uma ressocialização.

Conclusão

Neste texto abordamos a importância da socialização e da sociabilidade na construção do indivíduo. Também foi explorado como esse processo é desenvolvido, bem como suas características que mostram como os traços culturais e os aspectos sociais da vida em sociedade influenciam e afetam no aprendizado dos indivíduos. Por fim, como os agentes socializadores atuam nas diferentes etapas da vida da pessoa. Como vimos, o processo de socialização é totalmente afetado pelo convívio diário do sujeito social no contexto ao qual ele está inserido.

Jornalista com 15 anos de experiência, é mestre em América Latina pela Universidade de São Paulo (USP) na linha de pesquisa Práticas Políticas e Relações Internacionais.

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