Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) – O que é?

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é um dos maiores e mais importantes movimentos sociais da América Latina. Sua atuação vai muito além da defesa da Reforma Agrária, levando a organização a um outro patamar de mobilização política e social.

Neste artigo do Gestão Educacional, trataremos das origens e dos objetivos deste controverso movimento social. Abordaremos, também, os projetos, resultados e desafios do MST nos tempos atuais.

O que é e quais as origens do MST?

O MST foi criado em 1984, durante o primeiro encontro do movimento, realizado na cidade paranaense de Cascavel, em meio a um contexto de reabertura política e de luta por conscientização quanto à necessidade de se realizar a reforma agrária, buscando conscientizar a população quanto a essa luta, sem se desconectar da reivindicação por transformações sociais no país.

O debate em torno da reforma agrária se fez presente na época – e ainda hoje – devido ao grande número de latifúndios, uma característica brasileira desde os tempos em que éramos uma colônia portuguesa, com grandes pedaços de terra pertencentes a um único dono. Mesmo antes da abolição da escravidão o Império determinou a criação da Lei de Terras, que aumentou ainda mais a concentração fundiária.

A implantação da República e o avançar dos anos abriu a discussão a respeito do tema e, consequentemente, propiciou o surgimento de movimentos de luta pela terra. Outros grupos haviam tentado reivindicar a distribuição igualitária de terras, mas, especialmente durante o Regime Militar, esse processo se tornou difícil e tais grupos sumiram.

MST na Nova República

Apenas a partir da segunda metade dos anos 1980, com a queda dos governos militares e o retorno à democracia, a luta pela terra voltou a ganhar força e o MST se habilitou como ator importante, organizando barricadas em estradas e ocupações em propriedades improdutivas, tudo para chamar a atenção das pessoas e da mídia para a causa.

A partir dos anos 1990, o movimentou se fortaleceu, institucionalizou-se e desenvolveu uma estrutura organizativa que ampliou sua capacidade de intervir nas lutas políticas do país, transcendendo a questão da terra.

Hoje, o MST está em 24 unidades da federação, tendo assentado mais de 350 mil famílias, sendo que a maioria continua atuando junto da organização em busca de outras reivindicações. Sua luta colaborou para mais de 1 milhão de famílias assentadas entre 2003 e 2016, a partir da formulação do 2º Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), proposto no governo Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, a reforma agrária só avançou devido à luta e atuação dos trabalhadores sem-terra.

MST, a educação e os desafios

Um dos elementos a se destacar no MST é o forte trabalho de formação e educação, para levar a luta da reforma agrária a mais pessoas. Trata-se de uma preocupação com a função social da organização.

Segundo Fabiana Baldi e Paulino José Orso, em Movimento dos Trabalhadores Sem terra – MST – Educação em movimento, essa mobilização em prol da conscientização permite que se intensifique a organização dos trabalhadores, ajuda na construção e no fortalecimento dos outros movimentos sociais no campo, combate o modelo nacional que defende os monopólios, multinacionais e a produção de transgênicos, além de que atua de maneira ativa nas várias iniciativas que buscam um projeto popular para o Brasil.

“Uma das grandes inovações que este movimento social tem apresentado é a compreensão da necessidade da educação enquanto parte do processo de transformação da atual sociedade e alcance de seus objetivos”, afirmam Baldi e Orso. Uma prova disso foi a criação da Escola Nacional Florestan Fernandes, que, desde 2005, promove cursos formais e informais direcionados à produção, ao comércio e à gestão dos acampamentos e assentamentos. Entre os cursos existentes estão: administração cooperativista, alfabetização, pedagogia da terra, saúde comunitária, planejamento agrícola etc.

Vale dizer que a escola e todo o trabalho do MST se colocam como importantes na luta pela distribuição de terras para que todos possam trabalhar e produzir seus próprios alimentos, ainda mais diante dos desafios colocados diariamente, já que, apesar das conquistas pelo movimento e pelos avanços recentemente alcançados no Brasil, a reforma agrária nunca foi concretizada em sua totalidade, justamente por contrariar os interesses de uma classe dominante que controla o país desde a colonização e se aproveita dos latifúndios, da monocultura exportadora e também da escravidão, como destacam Baldi e Orso.

Também citado no artigo, João Pedro Stédile, uma das lideranças do MST, expõe o problema ao mesmo tempo em que indica o futuro. Ele questiona a razão de a reforma agrária ainda não ter sido feita no país, enquanto outros tipos de reforma sempre são colocados à frente. “Como compreender que outras reformas, como a institucional, que não respondem a qualquer unanimidade nacional, foram realizadas com a incisividade e a determinação que testemunhamos? É trágico que a resposta seja brutalmente simples: a reforma agrária interessa aos pobres, ao povo, e as outras (reformas) interessam aos ricos”.

Jornalista com 15 anos de experiência, é mestre em América Latina pela Universidade de São Paulo (USP) na linha de pesquisa Práticas Políticas e Relações Internacionais.

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